O alquimista

NEM TRANSMUTAÇÃO DE METAIS NEM ELIXIR DA LONGA VIDA - A PEDRA FILOSOFAL AO PODER

terça-feira, dezembro 26, 2006
















"Perguntas-me o que miro!
Traidor rei, que hei-de eu mirar?
As torres daquele alcáçar,
Que ainda estão a fumegar".

"Se eu fui ali tão ditosa,
Se ali soube o que era amar,
Se ali me fica alma e vida...
Traidor rei, que hei-de eu mirar?"

"Pois mira, Gaya!"E, dizendo,
Da espada foi arrancar:
"Mira, Gaya, que esses olhos
Não terão mais que mirar."

Foi-lhe a cabeça de um talho;
E com o pé, sem olhar,
Borda fora empuxa o corpo...
O Douro que os leve ao mar.

E de além Douro, essa praia
Onde o barco ía aproar
Quando bradou - "Mira, Gaya!"
O rei que a vai degolar,

Ainda hoje está dizendo
Na tradição popular,
Que o nome tem - Miragaia
Daquele fatal mirar.

Almeida Garrett, Miragaia