"Perguntas-me o que miro!
Traidor rei, que hei-de eu mirar?
As torres daquele alcáçar,
Que ainda estão a fumegar".
"Se eu fui ali tão ditosa,
Se ali soube o que era amar,
Se ali me fica alma e vida...
Traidor rei, que hei-de eu mirar?"
"Pois mira, Gaya!"E, dizendo,
Da espada foi arrancar:
"Mira, Gaya, que esses olhos
Não terão mais que mirar."
Foi-lhe a cabeça de um talho;
E com o pé, sem olhar,
Borda fora empuxa o corpo...
O Douro que os leve ao mar.
E de além Douro, essa praia
Onde o barco ía aproar
Quando bradou - "Mira, Gaya!"
O rei que a vai degolar,
Ainda hoje está dizendo
Na tradição popular,
Que o nome tem - Miragaia
Daquele fatal mirar.
Almeida Garrett, Miragaia
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