O alquimista

NEM TRANSMUTAÇÃO DE METAIS NEM ELIXIR DA LONGA VIDA - A PEDRA FILOSOFAL AO PODER

quarta-feira, janeiro 24, 2007


(...) De pêlo na venta poderia ser qualificada já que assumia na íntegra, como vimos, os processos pedagógicos vigentes na época, que, para além daquele acima exemplificado, contemplavam, ainda, o uso da régua de que servia não só para lhe ajudar a endireitar as linhas curvas como para nos fazer andar aos esses que é esta a letra que geralmente invocamos quando queremos dizer que estamos atrapalhados. Recordo-me ainda hoje desse pedaço de madeira, certamente extraído do acapu, da itaúba ou do jacarandá, todas elas árvores ancestrais com enorme resistência mecânica, que colocava não raras vezes à prova a nossa infantil resistência. Lembro-me de lhe ver em ambos os lados umas manchas avermelhadas, provavelmente veios da madeira vistos a esta distância, mas que ao perto me faziam pensar em resíduos de sangue proveniente das suas vítimas, deixados ali propositadamente para nossa inquietação. Repousava invariavelmente no topo da secretária, fora das horas de serviço. Certo dia, o Abreu, de lugar cativo na quarta fila com vistas para o corredor, chamado ao mapa para apontar os afluentes do Douro, hesitava entre o esticar do indicador direito directo às minúsculas linhas azuis cujo nome procurava a custo decifrar ou proteger com a mão as pernas já de si vermelhas das reguadas da D. Matilde cada vez que metia o pé na água. Noutro, o Dias, vizinho do lado do Abreu, dançava ao ritmo da régua sempre que descarrilava em cada apeadeiro da Linha do Tua ou se perdia nas encostas abruptas da Cordilheira Central. (...)

2 Comments:

  • At 7:38 da tarde, Blogger MJ said…

    O terror extremo que se vivia nas escolas primárias do "antigamente".
    Conheço muito bem essa realidade. Apesar de nunca ter sentido a dor inflingida por esse instrumento de tortura, vi, assisti, com lágrimas nos olhos e o coração apertado à "execução" das sentenças ditadas pelo/a "mestre". Sofri com os torturados...
    Hoje caímos no extremo radicalmente oposto. As vítimas deixaram de ser os alunos. Passámos a ser nós, os professores.

    Até quando?

    Um beijo.

     
  • At 11:58 da tarde, Blogger alquimista said…

    Olá MJ:

    Estas foram vividas por mim e não foram nada agradáveis!

    "Até quando?"

    Esperemos que só até a MLR se ir embora ... :)

    BJ

     

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