Vêm aí as Virgens
A luta pela dominação, seja no futebol ou em qualquer outra actividade, faz-se não raramente com alguma batota, perdendo muitas vezes aqueles que a não conseguem fazer melhor. Claro que só isto não chega. Ou melhor, poderá chegar durante algum tempo, mas não durante o tempo todo. Pelos últimos desenvolvimentos, e tendo em conta experiências passadas, não vão tardar os fariseus de serviço e os moralistas de conveniência que empunharão a bandeira da hipocrisia até que o braço se lhes doa. Ninguém em seu perfeito juízo acreditará que se consegue manter uma actividade hegemónica durante mais de vinte anos sistematicamente à margem da lei. Ou será que os êxitos internacionais foram viciados? Alguém já pôs em causa idênticas façanhas obtidas na década de sessenta, na altura unanimemente partilhadas por um país subdesenvolvido e marginalizado? Não terão os melhores artistas maiores probabilidades de dar melhor espectáculo? Não terá uma melhor gestão, muitas vezes tida como modelo para outros sectores, maiores probalidades de sucesso? Claro que sim, mesmo que sujeita a alguns percalços.
A história recente da hegemonia futebolística, e quando digo recente refiro-me aos últimos quarenta anos, está balizada pelo domínio e controlo da informação, pelo domínio e controlo dos factores aleatórios, leia-se arbitragem, e pela capacidade de gestão, leia-se competência profissional. Numa primeira fase destes quarenta anos o último destes factores era praticamente irrelevante, tal era o carácter decisório dos dois primeiros e respectivo controlo. Numa segunda fase, coincindentemente ou não com a restauração das nossas liberdades assistimos ao "assalto" dos poderes futebolísticos instituídos o que causou alguma perplexidade e desconforto a quem até aí não necessitava de grande esforço para se impôr desportivamente. É dos livros que o poder não se dá, conquista-se. E quem o perde, das duas uma, ou é competente para o voltar a adquirir, ou não é e inventa desculpas que justifiquem perante os seus apoiantes os repetidos insucessos. As duas últimas décadas e a última em especial são disso um exemplo acabado. Alguém disse há pouco tempo que noventa por cento da mole do futebol era troglodita. Os dirigentes sabem que é para essa massa aparentemente acéfala que têm de falar. E que quanto mais sangue fizerem mais arregimentam as tropas. E sendo que sangue é um dos pratos mais apetecidos dos media, não nos admira as incursões vampirescas que diariamente são feitas por alguns dos seus enviados ao campo de batalha. É com eles e com os seus aliados que vamos todos levar nos próximos dias, quais virgens impolutas defensoras dos bons costumes mas sempre à espreita duma boa oportunidade para uma escapadela.
Na Idade Média, todos os que se antecipavam aos acontecimentos ou sobressaíam da mediocridade institucional acabavam na fogueira ou eram decapitados. Hoje, quem está acima da média (e não é preciso muito), não pode ser virgem, tem de ser impuro e só o fogo o poderá purificar. Mas será que não há por aí extintores suficientes para impedir que o fogo se alastre? Com certeza que sim...
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