O alquimista

NEM TRANSMUTAÇÃO DE METAIS NEM ELIXIR DA LONGA VIDA - A PEDRA FILOSOFAL AO PODER

terça-feira, março 20, 2007

MEMÓRIAS DE CROCODILO CAPÍTULO 3 :


Defronte da casa existia, ainda hoje lá está, uma cabine de alta tensão para a qual os meus pais me alertavam dizendo que matava não só as pessoas mais descuidadas que por ali passassem como até seria capaz de matar um boi, afirmação não digo exagerada quanto aos poderes dessa mesma central no que ao animal diz respeito, mas certamente descabida, sabendo-se como se sabe que na década de cinquenta o transporte bovino tinha sido há muito tempo banido das artérias da cidade.



A única explicação para tão bizarra comparação encontro-a em alguma nostalgia mal disfarçada da proveniência rural dos meus pais. Calculo, hoje, como lhes teria sido penoso, se na altura lhes tivesse pedido para fazerem prova de semelhante afirmação… Pelo sim pelo não, durante os anos que por ali passei, fazia-o sempre pelo passeio do lado oposto.


Mais acima, logo a seguir à escola Normal, estava o Jardim de Moreira da Silva, o primeiro gerente da Cooperativa dos Pedreiros, um exemplo de associativismo da primeira década do século vinte, fundada por dez operários especializados que trabalhavam na construção da Estação de S. Bento e que, para tal, haviam dado uma entrada de vinte escudos.

Era um modelo de importação inglesa, do tipo dos jardins de quarteirão com um canteiro central circular e dois laterais rectangulares. No topo voltado a norte havia uma fonte de granito com uma mulher segurando uma ânfora de onde jorrava a água, e à frente um enorme banco, também em granito, onde encetei, enfiado no meu pequeno sobretudo amarelo de veludos azuis na gola e nas mangas, as minhas primeiras acrobacias sob o olhar vigilante dos meus pais. O meu primeiro triciclo deu aqui as primeiras voltas por entres os carvalhos e os bancos de madeira pintados de vermelho.


Quando entrei para a escola primária, os meus pais proibiram-me definitivamente de atravessar este jardim de tão boas memórias, a pretexto de que ele acolhia jovens e adultos pouco recomendáveis, e eu, obediente como todos nós éramos, os de boas famílias, naquela época até aos vinte e um anos, só depois dessa idade me lembro de lá ter passado.

Mas passado, também, tinha o tempo que dele tivera saudades.
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PERGUNTA 3: Quantos anos tinha o ALQUIMISTINHA das fotos ?

RESPOSTA 2 : A Alicinha é a que está sentada ao meu lado.

5 Comments:

  • At 11:49 da tarde, Blogger MJ said…

    Boa noite, doce Alquimista:-)

    Já, então, eras um doce de menino. :-))

    Obediente, cuidadoso...

    E nesta foto estás uma verdadeira delícia. :-)

    A idade... deixa ver... 4 anos?

    Beijo doce*

     
  • At 10:28 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Bom dia Alquimista!
    Estive agora a ler estas memórias que estão uma delícia! Parabéns. As imagens "escritas" e "fotográficas" do Porto, fizeram-me lembrar um tempo em que trabalhei nesta cidade (5 anos).Ali ao fundo de Sá da Bandeira com a rua 31 de Janeiro -no Banco Borges & Irmão. Um edifício também muito bonito que dava uma certa solenidade à profissão... creio que era na Rua da Alegria que morava um colega meu, vindo de Trás-os-Montes (creio que era da Vilariça?!...? para estudar e acabou por casar com a filha da senhora onde estava hospedado.Resultado nem estudos, nem família, já que os pais pessoas de grandes posses ( o Pai creio que era médico) e que não concordando com o casamento o tinham deserdado...
    Que histórias podem contar aquelas ruas. Continue a deliciar-nos com estas memórias.
    Ah! E o meu palpite para a idade...dois, três anos?
    Beijinho
    M.Dores

     
  • At 12:28 da tarde, Blogger alquimista said…

    Olá João:

    Em termos de doçura, até hoje não tem havido reclamações :):)

    Já o mesmo não direi da obediência...

    Bom, se nesta foto achas que estou uma delícia, que dirias se visses as de agora...:):)

    Quanto à idade, será publicada no próximo capítulo ... capiche?

    Beijo

     
  • At 12:44 da tarde, Blogger alquimista said…

    Olá Maria das Dores:

    Conheço bem esse edifício do Banco Borges e Irmão em Sá da Bandeira. É, realmente, magnífico. Foi construído na década de cinquenta quando foi aberta a Avenida dos Aliados, tendo sido demolido nesse mesmo local um hotel muito conhecido na época, o Hotel Frankfort. Este hotel era visitado muitas vezes por Camilo nas suas permanências no Porto, assim como o ex-Café Guichard uns vinte metros mais abaixo. Aí uns vinte metros, mais para cima, existia onde é hoje o Teatro Sá da Bandeira, o Teatro Baquet. A monarquia assistia aqui a espectáculos sempre que vinha ao Porto, tendo sido destruído por um incêndio em 1888 onde morreram cerca de 100 pessoas.
    Como vê esteve durante cinco anos "em cima" de história deste burgo.

    Um beijo portuense e boa semana

     
  • At 3:11 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    :)Fantástica barriguinha!
    Linda sua memória.
    bjs!

     

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