O alquimista

NEM TRANSMUTAÇÃO DE METAIS NEM ELIXIR DA LONGA VIDA - A PEDRA FILOSOFAL AO PODER

domingo, maio 13, 2007

MEMÓRIAS DE CROCODILO

CAPÍTULO 19

As alcatruzes são como os interruptores. O meu pai, sempre os teve, a umas e a outros voltados para o lado de baixo, conta-se que por via do negócio falhado com o meu tio Costa, naquele período da vida em que nos dão à costa os mais alterosos projectos. Por este motivo e do corte de relações habitual quando se esbracejam responsabilidades, o conhecimento dos meus primos surgiu bastante tarde com contactos tão esporádicos quanto cumplicemente desconhecidos por parte do meu pai.

A Gininha, a mais nova dos três irmãos e do que eu três anos, foi aquela com quem mais contactos mantive. Era assim tipo Mary Hopkin do “Those Were the Days” dos anos sessenta que se fartou de andar às voltas no meu gira-discos portátil, de olhos azuis, cara redonda e longos cabelos louros. Recordo-me de umas férias passadas em Constance, já adolescentes, em casa da minha tia Olinda, irmã da minha avó Adelaide, durante as quais exploramos montes e vales, que do aforismo popular não me lembro de ter feito uso.

O irmão mais velho, o Carlos Manuel (jogava futebol mas não era o do célebre golo de Estugarda embora também equipasse de vermelho mas à Salgueiros), não só cantava como tocava bateria. Juntos, demos alguns desconcertantes concertos, para os amigos, claro. A irmã do meio, que se homem fosse bem poderia chamar-se Sérgio, era a Estela, não sei se em homenagem à cultura Maia que os meus tios já se finaram, mas que poderia ser resgatada pelos arqueólogos daqui a séculos como monumento à beleza, não tenho quaisquer dúvidas.

Depois de alguns anos de afastamento forçado da irmã, o meu tio Costa começou a ir visitá-la mas só se ficava pela entrada. O mesmo acontecia com a minha avó, que, no entanto, passou a ter o privilégio de connosco almoçar e por lá se quedar durante a tarde (o trabalho no Teatro era só ao final do dia) e eu o de ter as meias sempre cosidas, uns chinelos de pano para não riscar o chão e umas camisas feitas à medida.

4 Comments:

  • At 10:40 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    OLA ALQUI

    LÁ CONSEGUI PÔR AS CROCOMEMÓRIAS EM DIA... ESTAS RECORD. DA INFANCIA ACOMPANHAM-NOS TODA A VIDA!
    TENHO ALGUMAS SEMELHANTES MAS PASSADAS NO ALENTEJO... INCLUINDO TB.TIVE UM TIO COSTA (GABRIEL), O MARIDO DE MINHA TIA E Q INFELIZ/ MORREU AOS 53 ANOS, DEIXANDO MINHA TIA VIUVA AINDA MTO JOVEM E MEUS PRIMO E PRIMA A BEIRA DOS 20 ANOS...
    MINHA TIA, POR UTRO LADO TB. É GINA - MAS GEORGINA...

    E EU TB ANDAVA DE PATINS LA NA ALDEIA... MAS NO CORREDOR DA CASA, QUE ERA COMPRIDO... ASSIM NAO CORRI O RISCO DE ME DESPENHAR...
    QUEM SABE SE DEVE A VIDA AO SEU PAI, DUAS VEZES, AMIGO!

    BOA SEMANA
    BEIJO ALDEÃO*

     
  • At 7:23 da tarde, Blogger MJ said…

    Doce Alquimista:-)

    Só agora reparei que já tinhas postado novo capítulo.

    Pois... calculo que devo ter ficado meio "atordoada" com o poema do Vinicius e já não vi mais nada à minha frente :-)

    Com que então, a Gininha, hein? Será ela a tua musa inspiradora do supra citado poema? :-)

    "Recordo-me de umas férias passadas em Constance, já adolescentes, em casa da minha tia Olinda, irmã da minha avó Adelaide, durante as quais exploramos montes e vales..."

    Claro... essas coisas nunca se esquecem, né, ganda maluco? :-))

    Beijo atrasado*

     
  • At 10:51 da tarde, Blogger alquimista said…

    Aspásia:

    É bem provável que deva a vida ao meu pai, pelo menos uma vez e meia ....

     
  • At 10:54 da tarde, Blogger alquimista said…

    João:

    Ainda era muito novo nessa altura para contemplar outras coisas que não fossem as belezas da natureza... :)

    E como digo a seguir no texto, do aforismo popular não me lembro de ter feito uso...:)

    Beijo usual

     

Enviar um comentário

<< Home