O alquimista

NEM TRANSMUTAÇÃO DE METAIS NEM ELIXIR DA LONGA VIDA - A PEDRA FILOSOFAL AO PODER

quarta-feira, março 21, 2007

MEMÓRIAS DE CROCODILO


CAPÍTULO 4


Tinha eu quatro anos quando o meu pai me inscreveu na Ginástica do Futebol Clube do Porto por sugestão do médico que via na prática desportiva, e como via longe esse médico, uma complementar terapia para a minha bronquite asmática que por essas alturas começava a dar sinais de si e que me acompanharia até perto dos quinze anos.
Esta decisão terá determinado, sem que ninguém o suspeitasse, o médico, os meus pais e muito menos eu, o meu trajecto profissional.
ALAMEDA DAS FONTAINHAS

Ficava o ginásio na Rua de Alexandre Herculano, que ía da Praça da Batalha até às Fontaínhas onde, na noite de vinte e três para vinte e quatro de Junho, o tripeiro de gema ía ver a imagem de S. João a baptizar Cristo na cascata gigante instalada no início da Alameda, comer as farturas e as sardinhas assadas com um copo de verde, dar um pé de dança e andar nos “carrinhos de choque” ou no “carrocel”.

Morando eu, já nessa altura, na Rua da Alegria perto da fábrica de açúcar onde depois se construiu o Hotel Castor, a viagem até ao Ginásio era feita de Eléctrico. Saía no Jardim de S. Lázaro, onde fazia zona. Atravessava-o a correr sem sequer imaginar que ali havido sido em tempos o Hospital dos Lázaros, dado ao recolhimento dos leprosos da cidade e dos arredores, transformado em Jardim por ordem de D. Pedro IV em meados do século dezanove. Daqui até ao Ginásio tinha de andar, ainda, uns bons trezentos metros.

JARDIM DE S. LÁZARO

No primeiro e segundo ano fazia a viagem acompanhado ora do meu pai, ora da minha mãe. Mas, lembro-me de uma vez, teria os meus oito anos e deslocando-me já sozinho, ter resolvido encurtar a distância do percurso que era feito a pé metendo por uma travessa esconsa de habitações degradadas, frequentada por gente de condição duvidosa, penso eu agora, talvez chulos ou prostitutas, arrumadores é que não pois não os havia ainda nessa altura por serem muito os lugares e poucos os automóveis. Passou a ser esse o meu trajecto normal até ao dia em que, por azar, na minha óptica, premonição, mão de Deus ou do anjo da guarda na dos meus pais, ou ainda obra do acaso numa avaliação imparcial, um dos meus progenitores, penso que a minha mãe, me resolveu acompanhar. Orgulhoso da minha descoberta, decidi ensinar-lhe o novo caminho mas qual não foi o meu espanto ao ver o seu ar igualmente espantado, eu diria mesmo, angustiado, quando se apercebeu do local perigosíssimo por onde eu encaminhava os meus passos rumo à Ginástica. Ali mesmo ficou a promessa e a proibição de voltar a calcorrear tão tortuosos caminhos.

ALQUIMISTINHA RECEBENDO A SUA 1ª MEDALHA

Neste Ginásio viria, anos mais tarde, a dar aulas de Ginástica ao serviço do F.C.P., subindo as mesmas escadas estreitas e íngremes até ao primeiro andar, tomando banho nos mesmos balneários, trepando aos mesmos espaldares e pisando com as minhas Reebok as mesmas tábuas que em dezassete de Outubro de mil novecentos e cinquenta e nove (tinha eu sete anos) pisara com uns sapatos de camurça, calções, colete de bico e laço de pontas para receber a minha primeira medalha desportiva das mãos do professor Armelindo Bentes.

EX-GINÁSIO DO F.C.P.

Um outro ilustre professor que aqui tive, Noronha Feio, que viria a ser depois do vinte e cinco de Abril (lembram-se?) Director Geral dos Desportos e que já nessa altura aplicava conceitos de motricidade só muito mais tarde adoptados nas escolas, foi um dos responsáveis, (para além da bronquite como já se viu) através do prazer que conseguia incutir nos seus alunos da prática desportiva, pela minha futura carreira profissional.

(continua)

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RESPOSTA 3: 3 Anos

PERGUNTA 4 : Como se chama o professor que está a cumprimentar o Alquimistinha ?

5 Comments:

  • At 10:53 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Como já li o texto todo, que mais uma vez está uma delícia, vou directa à pergunta cuja resposta é...Prof.Armelindo Bentes.
    Sabe que conheci o professor Noronha Feio? Ele foi Director ou Presidente da Federação (de momento não tenho a certeza do nome) Desportiva de Moçambique em Lourenço Marques (actual Maputo).A minha irmã trabalhou lá e tive um primo que trabalhou directamente com ele e durante alguns. Creio que uma das filhas do Prof.Noronha Feio foi Madrinha da filha mais nova desse meu primo. Lembro-me que era uma pessoa muito afável e com um certo ar "British"...
    Beijinho e obrigada por mais esta história. A fotografia a cumprimentar o professor está giríssima e vê-se o ar de satisfação pessoal e o da assistência. Deve ter havido um gracejo certamente por parte de quem lhe estava entregar a medalha...
    M.Dores

     
  • At 11:12 da manhã, Blogger MJ said…

    Bom dia, doce Alquimista:-)

    Já li o 4º capítulo ontem mas só hoje tive oportunidade de comentar. :-)))

    Continuam a ser uma "delícia" estas tuas memórias e a forma "leve" e divertida como as escreves.

    Pois esse médico, para além de exercer medicina tradicional, podia ter-se dedicado também à Psicologia de Orientação Vocacional. :-)

    Com que então, procurate o caminho mais curto por locais "escusos"...
    Não tinhas lido a história do Capuchinho Vermelho?
    Olha se te aparecia uma Loba Má e te comia!:-)
    Hoje não te teríamos, aqui, a partilhar estas vivências...

    Estás um fofinho nas fotos. :-)

    Hoje a pergunta é simples... É mais um teste à nossa atenção do que à nossa perspicácia...

    A menos que nos tenhas "enganado", o professor é Armelindo Bentes.

    Ganhei a bicicleta????

    Beijo quentinho*

     
  • At 2:53 da tarde, Blogger alquimista said…

    Olá Maria das Dores:

    O Prof. Noronha Feio (1932-1996), era efectivamente, um gentleman, e pedagogicamente muito avançado
    para aquele tempo. Muito alto,cabelo ruivo, cara sardenta, era casado igualmente com uma professora de EF, tendo iniciado a sua vida profissional no Porto. Criou o INEF (Instituto Nacional de Educação Física) em Lisboa indo depois para para Lourenço Marques onde esteve à frente do Conselho Provincial de Educação Física de Moçambique.

    Uma das minhas boas recordações.

     
  • At 2:58 da tarde, Blogger alquimista said…

    Olá João:

    "Olha se te aparecia uma Loba Má e te comia".

    Pois, era um perigo realmente. Mas agora que eu gostava que me aparecessem mesmo Lobas Más, só me aparecem Lobas Boas :)))

    "Estás um fofinho nas fotos"

    Estou, NÃO; SOU

    Um beijo

     
  • At 6:13 da tarde, Blogger MJ said…

    Ganda maluco!!:-)))

    Este homem "passou-se"!! :-)))

    Beijo fofinho*

     

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