O alquimista

NEM TRANSMUTAÇÃO DE METAIS NEM ELIXIR DA LONGA VIDA - A PEDRA FILOSOFAL AO PODER

quarta-feira, março 28, 2007


MEMÓRIAS DE CROCODILO

CAPÍTULO 7

É admissível, atrever-me-ia mesmo a dizer, acho altamente provável, que o único dos cinco nomes que atrás citei desconhecido dos meus leitores, contanto que ainda os que tenho neste momento (estejam eles a ler-me ou não concomitantemente, e mesmo que estejam não se lhes transmutarão graciosamente os conhecimentos), seja o de Matilde. O mesmo não direi do seu mester que, é bom de ver, todos perceberam que era o de professora.


Assim foi durante quatro anos, não se lhe tendo nunca durante esse tempo diminuído as rugas ou amaciado a pele e o pêlo do buço e muito menos o temperamento. De pêlo na venta poderia ser qualificada já que assumia na íntegra, como vimos, os processos pedagógicos vigentes na época, que, para além daquele atrás exemplificado, contemplavam, ainda, o uso da régua que servia não só para a ajudar a endireitar as linhas curvas como para nos fazer andar aos esses que é esta a letra que geralmente invocamos quando queremos dizer que estamos atrapalhados.


Recordo-me ainda hoje desse pedaço de madeira, certamente extraído do acapu, da itaúba ou do jacarandá, todas elas árvores ancestrais com enorme resistência mecânica, que colocava não raras vezes à prova a nossa infantil resistência. Tinha em ambos os lados umas manchas avermelhadas, provavelmente veios de madeira vistos a esta distância, mas que ao perto me faziam pensar em resíduos de sangue proveniente das suas vítimas, deixados ali propositadamente para nossa inquietação. Repousava invariavelmente no topo da secretária, fora das horas de serviço.


Certo dia, o Abreu, de lugar cativo na quarta fila com vistas para a rua, chamado ao mapa para apontar os afluentes do Douro, hesitava entre o esticar do indicador direito directo às minúsculas linhas azuis cujo nome procurava a custo decifrar ou proteger com a outra mão as pernas já de si vermelhas das reguadas da D. Matilde cada vez que metia o pé na água. Noutro, o Dias, vizinho do lado do Abreu, dançava ao ritmo da régua sempre que descarrilava em cada apeadeiro da Linha do Tua ou se perdia nas encostas abruptas da Cordilheira Central.

(CONTINUA)
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RESPOSTA 6 : Renato

PERGUNTA 7 : O que é que se encontra agora no edifício da ex-Escola Normal ?

8 Comments:

  • At 5:00 da tarde, Blogger Helena Velho said…

    Ah! essa eu sei a ESMAE e o teatro Helena Sá e Costa, que diga-se de verdade tem cumprido muito bem a sua função!!e não tenha eu uma filha figurinista, artista,escritora,pintora e enfim como dizia o 1º de Janeiro de 2ª feira-uma menina prodígio( não sai à mãe,não é?)

    Obrigada pela máxima do sonho..só estou à espera do abraço.

    Beijo babadíssimo!

     
  • At 7:32 da tarde, Blogger alquimista said…

    Maria Velho:

    "Máxima do sonho"?
    "... só estou à espera de abraço?"

    Não estou a ver... Deve haver aí confusão com outra pessoa qualquer...?!

     
  • At 7:57 da tarde, Blogger MJ said…

    Boa tarde, doce Alquimista :-)

    Pois é... não sei se sabes (e se a Srª Ministra também), mas esse instrumento de tortura ainda não caiu em desuso nas escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico.

    Por isso, as cianças chegam até nós tão "mansas", tão dóceis.
    Conhecem o autoritarismo, a força do castigo mas desconhecem a autoridade...

    E a ternura e o carinho que lhes oferecemos passa a ser confundido com permissividade, tolerância a rodos! Sei lá!

    Quanto ao Edíficio, não faço a mais pálida ideia! Se não fosse não querer revelar a minha provecta idade, diria que não passo por lá há séculos! :-)))

    Beijo terno*

     
  • At 10:29 da tarde, Blogger Helena Velho said…

    Alquimista

    Há, pelos vistos, outro alquimista.Bem dizia a Teresa David e eu sempre pensei tratar-se de uma e mesma pessoa.Pelo facto, aceite as minhas sinceras desculpas.Não ofendi,pois não?

     
  • At 12:29 da manhã, Blogger alquimista said…

    Olá João:

    Ora aí está uma boa discussão: autoritarismo e autoridade.

    A primeira só existe quando não se sabe usar a segunda. Mas enfim, longa conversa.

    Quanto às crianças chegarem "mansas" não estou tão seguro assim....

    Beijo indeciso

     
  • At 12:31 da manhã, Blogger alquimista said…

    Olá Maria Velho:

    Ok. Está esclarecido. Não ofendeu nem me criou qualquer crise de identidade.

    Também já usei desse carimbos...

     
  • At 1:39 da manhã, Blogger ASPÁSIA said…

    BOAS NOITES

    AH!!! ACERTEI NO RENATO!!! TENHO OLHO SECO MAS FELIZMENTE SOU MÉDIUM...

    NADA SEI DOS UP OU DOWNGRADES DOS EDIFICIOS DE LX E DAÍ AINDA MENOS, COMO É NATURAL...

    AINDA PENSEI SER ALGUMA BIBLIOTECA MAS JÁ VI ARESPOSTA DA MV...

    O QUE O ALQUI NÃO DISSE É SE USUFRUIU DAS CARÍCIAS DA MENINA DOS 5 OLHOS...
    EU PARECE Q UMA VEZ LEVEI 3 REGUADAS NA 2ª CLASSE E FIQUIE POR AÍ....

    DISTRAÇÕES E RISOTA DURANTE O DITADO, MAIS QUE IGNORÂNCIA DERAM ORIGEM A ESSA TRISTE CENA...

    MAS... CONSIDERA-SE CROCODILO DEVIDO À DUREZA DA EPIDERME... OU A EVENTUAIS LÁGRIMAS QUE VÁ DERRAMANDO NA ESCRIPTURA DESTAS MEMÓRIAS???

    BEIJOS REPTILIANOS...

     
  • At 11:01 da manhã, Blogger alquimista said…

    Bom dia Aspásia:

    Claro que também fui contemplado com as carícias da menina dos 5 olhos, só bastante mais tarde com as de 2...

    Quanto ao título que escolhi para as Memórias tem a ver com a analogia que pretendi fazer entre dois animais a que normalmente atribuímos uma boa memória (um) e uma certa nostalgia traduzida em lágrimas (outro)...

    Coisas de romancistas:)

    Bj

     

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