O alquimista

NEM TRANSMUTAÇÃO DE METAIS NEM ELIXIR DA LONGA VIDA - A PEDRA FILOSOFAL AO PODER

segunda-feira, janeiro 31, 2011

AS REDES

Quando andávamos na escola a que agora chamam básica e que para nós era primária havia em todas as classes a que agora chamam anos, alunos mal comportados a que hoje chamam hiperactivos com comportamentos desviantes. Mas também havia aqueles que se passeavam sózinhos pelos corredores ou se encostavam ao muro do recreio vendo os outros jogar futebol a que nós chamávamos betinhos e que agora são personalidades com dificuldades de inserção em meio escolar e de problemática inclusão social. 

Os primeiros esmurravam os próprios joelhos e os dos colegas enquanto os segundos massagavam os neurónios, os deles, e a curiosidade dos primeiros. Por entre a flexibilidade das articulações sinuviais e a rigidez das células nervosas foram crescendo uns e outros com maior ou menor dificuldade no que às competências relacionais dizia respeito. Ao longo dos tempos navegaram ambos em tranquilizadora assertividade ou em problemáticas carências afectivas, desaguando num transbordante sentido para a vida ou encalhando em sucessivos vazios existênciais, em dosagens compatíveis prescritas pelas respectivas instruções genéticas. 

Até que as novas oportunidades informáticas e as suas redes os enredaram nos instrumentos que os vão da lei da solidão libertando. A lista telefónica ou o diário pessoal tornaram-se pergaminhos enrolados no túnel do esquecimento e os amigos deixaram de ter textura física ou espessura mental para se virtualizarem em duas dimensões escondidos por detrás de uma placa gráfica que tudo mostra e nada deixa ver. 

Das colecções de moedas, de selos ou de caixas de fósforos passou-se à colecção de amigos. Tal como naquelas, também estes têm um preço, ficam à troca, e em qualquer alfarrabista encontramos manuais de psicologia que nos ensinam a catalogá-los. Exibimo-los aos colegas de trabalho, ao chefe ou à empregada, não sei se ao canário não vão eles também voar. Dia a dia, semana a semana, a lista vai crescendo, levando a reboque a auto-estima enquanto a estima durar. Trocam-se Pokes, Gifts e Events às dezenas, e às centenas os amigos dos conhecidos dos amigos trazem-nos outros amigos também. 

No século passado, a sardinha e o bacalhau tranformaram este país de navegadores num país de pescadores que lançavam no alto mar as suas redes. Hoje, após os desastrosos acordos de pescas no momento da nossa entrada na União Europeia que decapitou grande parte da nossa potencialidade piscatória, os pescadores cibernautas tomam o lugar daqueles e lançam-se nas redes ditas sociais em busca de sardinha, seja grande ou pequenina.

terça-feira, janeiro 25, 2011

FIGURAS À MODA DO PORTO


 CHEGOU O F.M.I.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

ÀS MOSCAS



Como já todos estamos carecas de saber, em tempo de crise, as estratégias, as linhas de acção, o que quer dizer, os critérios que condicionam as políticas de orientação de qualquer ministério são puramente ecomomicistas. É a forma mais fácil de governar. Os objectivos económicos estão lá, perfeitamente mensuráveis, palpáveis e de efeitos igualmente visíveis a curto prazo. Governar obedecendo a critérios e a concepções de ordem pedagógica é outra coisa que, sendo bem mais atractivo e reconfortante para os amantes da causa, é muito mais difícil e "vende" muito menos junto da opinião pública, constantemente bombardeada pela opinião publicada. 

Acresce o facto de que uma verdadeira política coerente na educação assente nos tais critérios pedagógicos necessita de muitos anos, por vezes gerações, para que os seus efeitos de façam sentir. E todos nós sabemos que a política é a arte do imediato. Churchill dizia que a diferença entre um político e um estadista era que enquanto um político pensa nas próximas eleições o estadista pensa nas próximas gerações. E, retirando alguns pouquíssimos exemplos a seguir ao 25 de Abril, hoje apenas temos políticos que assumem o curto prazo como forma de validarem as suas longas carreiras. E enquanto assim for, continuaremos a andar de mão estendida aos "mercados", a empurrar com a barriga os problemas financeiros que, na sua verdadeira essência, resultam de uma falta de cultura (política e da outra) que só um forte investimento na educação pode resolver... a longo prazo. 

Assim o fizeram outros países com os fundos europeus distribuídos há vinte anos, enquanto nós os "investíamos" em alcatrão e outros "projectos" sem retorno. Como dizia Guerra Junqueiro: "Somos um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas..."

domingo, janeiro 16, 2011

FIGURAS À MODA DO PORTO


Jorge Luís Borges conta, algures, de um homem desenhando ao longo de toda a vida um mapa e descobrindo, antes de morrer, que o papel que enchera pacientemente de províncias, de reinos, de montanhas, de rios e de céus traçava, afinal, a labiríntica imagem do seu próprio rosto.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

FIGURAS À MODA DO PORTO


Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.
 
(Ary dos Santos)

terça-feira, janeiro 11, 2011

À NOITE, O NORTE