CAPÍTULO 8
Face à sua condição de escola formadora de futuros professores, por diversas vezes as alunas estagiárias assistiam às nossas aulas sentadas num banco corrido existente no fundo da sala com o intuito de tornarem seus os conhecimentos que eram pertença da D. Matilde bem assim como o de manipular as artes de bem cavalgar a futura profissão servindo-se para tal das humildes crianças que nós éramos.
Ao toque da campainha ouvíamos a sacramental frase proferida pela professora: “As meninas (as estagiárias) podem sair”. De seguida saíamos nós, se porventura não houvesse algum trabalho em atraso que era certo nos levaria a ficar o tempo necessário para o terminar sem qualquer arrufo da nossa parte, que esses guardados ficariam para muitos anos depois quando já não estivéssemos em idade de os ter e fossem por outras gerações apropriados que tanto lhes seria permitido pelas novas pedagogias.
Após a saída iniciava-se uma disputada corrida rua acima até à curva com a Rua da Alegria cuja meta era cortada com a alegria dos verdadeiros campeões. Não vou aqui dizer que era eu quem colhia sempre os louros imaginários de uma vitória real, tida como a façanha do dia, que o era sem sombra de dúvida para nós, pois tal afirmação poderia ser tomada como presunçosa, desvanecida ou vaidosa senão mesmo mentirosa, epítetos que estariam para este vosso humilde contador de estórias como o dia está para a noite ou, para ser mais esclarecedor, como o azeite está para a água. Por isso direi apenas que … ganhava muitas vezes, sem receio de prejuízo para a futura carreira desportiva, que entretanto já foi feita, causado por este preciosismo diletante.
Aconteceu um dia eu ter chegado ao cimo da rua com tamanho avanço que olhando para trás e ainda mal refeito do esforço, não vislumbrei sequer o segundo classificado. Com a excitação de vitória tão retumbante o coração voltou a acelerar e mais acelerado ficou quando vi um dos meus colegas, o Vale, junto ao portão de saída gritando: “A D. Matilde chamou-te.” – “Porquê?” perguntei eu. – “Ela mandou sair as meninas, não foi os meninos”, respondeu ele. Fiz a minha mais penosa entrada naquele velho portão enferrujado. Ao chegar à porta da sala olhei de imediato para cima da secretária da D. Matilde. A régua não estava lá…
Acabada a Escola Primária, fui durante muitos sábados, a pé, desde a padaria a casa da D. Matilde levar algumas dúzias de pão e regueifas ainda quentes. Suprema humilhação. Mas para os meus pais, as explicações de graça que deu aos alunos em sua casa alguns meses antes do exame da quarta classe, em que me incluía, justificavam isso e muito mais. Por isso lhe ofereceram, também, um sofá para o quarto…
(continua)
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RESPOSTA 7: ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo) e Teatro Helena Sá e Costa.
PERGUNTA 8: Não tendo eu reprovado nenhum ano, nascido em Dezembro e tendo entrado para a primeira classe com 6 anos, quando acabei a instrução primária há quantos anos tinha sido construída a Escola Normal ?